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Uma manhã em Paris

  • Foto do escritor: Aline Brettas
    Aline Brettas
  • 3 de mar. de 2022
  • 2 min de leitura

Atualizado: 13 de mar. de 2022

09 de agosto de 2020



Foto: wikipedia.


Em 2012, tive uma experiência aparentemente trivial.

Eu e Alessandro estávamos perambulando pelas ruas de Paris, especificamente na região de Bagnolet, em busca do café da manhã (o leitor pode pensar que passeio por Paris como se estivesse na Lapa ... mas não, não é o caso).

Então, retornando ao conto: estávamos procurando um lugar para o desjejum necessário. Acordamos tarde e perdemos o horário do café da manhã do hotel. Apesar do inconveniente da situação, pensamos que encontraríamos uma padaria logo na esquina. Mas o estereótipo da "terra da baguete" não se confirmou, pelo menos nas proximidades do hotel onde estávamos.


Caminhamos por vários quarteirões e não encontramos nenhum lugar que servisse pão francês: “se não tem pão, que coma brioches”, frase lendária atribuída à Maria Antonieta. Bem, sem pão e sem brioches: essa era a nossa condição.

Entramos em um bar, esperando encontrar algo que pudesse forrar o estômago. Não me lembro dos detalhes, era um bar que no Brasil seria considerado “copo sujo”. Havia alguns homens que pareciam bêbados, e a nossa comunicação não estava sendo bem sucedida. Nosso francês era fraco e a turma não parecia disposta a tentar o inglês, por desconhecimento ou desinteresse, não sei.

Então, ouvi uma voz feminina. Olhei para trás e vi uma senhora, aparentando ter 50 anos. Ela se dirigiu ao dono do bar, dizendo coisas(em francês, é claro) que eu não entendia. Ela exibia uma maquiagem pesada, cabelos loiros presos em um coque improvisado, e usava um vestido colorido e decotado, em um estilo que me lembrou o “kitsch”.

O que chamou a atenção, contudo, foi a maneira como ela chegou em um ambiente predominantemente masculino e hostil. Ela parecia não se importar, sem dar mostras de constrangimento ou pudor, falando no mesmo tom dos demais presentes. Mostrava-se bem integrada, na verdade.

Eu me senti em uma atmosfera de sonho, como se estivesse convivendo com personagens de um livro de Hemingway. Por segundos, criei histórias com estudantes dos anos 1920, longe de casa, perdidos naquele bar e narrando suas experiências com pessoas de mundos diversos.

Lá, eu me senti como uma narradora observadora, divagando sobre a vida daquela senhora que sugeria, talvez sem saber, uma conduta “avant-gard”. Hoje, acredito que ela era simplesmente uma mulher livre, em suas dores e seus amores.

Essa imersão na fantasia acabou quando Alessandro me chamou para continuar nossa saga. E, curiosamente, saímos daquele lugar com as mesmas impressões e sentimentos.

Conversávamos sobre o ocorrido, quando finalmente encontramos um hotel que nos atenderia. Serviram-nos uma fatia de torrada recheada com manteiga e geleia, o que despertou várias outras sensações com a gastronomia local. Mas essa é outra história.


 
 
 

2 comentarios


Lina Rocha
Lina Rocha
13 mar 2022

que massa Aline, crônicas que narram histórias comuns são ótimos exercícios terapêuticos para você, e despertam o interesse de quem os lê


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Aline Brettas
Aline Brettas
13 mar 2022
Contestando a

Verdade, Lina! Que bom que gostou ☺️

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